
João Lopes: bandidos vem roubando seus direitos previdenciário por muitos anos
No submundo das sombras de Poços de Caldas, uma guerra silenciosa é travada contra os cidadãos mais vulneráveis. Quadrilhas e milícias especializadas em fraudes previdenciárias agem com frieza, roubando não apenas benefícios, mas também a dignidade, a segurança e o futuro de quem dedicou uma vida de trabalho ao progresso da Nação. Seus crimes deixam um rastro de devastação, desolação e um sofrimento imensurável, transformando o sonho da aposentadoria em um pesadelo sem fim.
Para essas vítimas, o momento de maior necessidade – quando a força do corpo se vai e a esperança deveria ser um direito – se transforma em uma dolorosa surpresa. A promessa de amparo social esvai-se, usurpada por bandidos que operam nos porões da ilegalidade. Esta é a história cruel vivida por João Lopes da Silva, um pedreiro residente no Jardim Ipê. Natural do Espírito Santo, chegou jovem ao Sul de Minas para labutar nas lavouras de cana da Usina Monte Alegre, em 1990. Anos de suor e contribuição o trouxeram a Poços de Caldas em 1995, onde encontrou sustento no Frigorífico Tamoyo.
Mas foi uma oportunidade de trabalho numa madeireira local que selaria seu destino tragicamente. Na Madesul, no bairro Vila Menezes, João trabalhava na serraria, sem registro, quando a tragédia lhe abateu de surpresa a tragicamente. No dia 8 de agosto de 2005, o fio afiado de uma serra decepou-lhe o dedo médio da mão direita e causou danos nervosos irreversíveis em outros dedos. Sem SAMU ou UPA que naquela época não existiam em Poços de Caldas, foi conduzido a duras penas ao pronto-socorro da Santa Casa. O acidente foi apenas o primeiro golpe. O empregador dono da madeireira então suplicou que João não o processasse, alegando que a empresa, repleta de irregularidades, iria à falência, prejudicando ambas as partes. Com o coração apertado, João concordou. A lealdade, no entanto, não foi correspondida. Seus direitos nunca foram regularizados. Anos depois, ao pedir demissão e buscar na Justiça a indenização devida, esbarrou na falência real da empresa e recebeu apenas uma mísera fração do valor.
Foi então, ao buscar o Auxílio Acidente a que tinha direito, que o golpe final veio à tona: o benefício foi indeferido. A razão era chocante e cruel: alguém, em algum lugar, já recebia estes benefícios em seu nome. Os direitos de João haviam sido roubados.
A Incansável Luta da esposa Zelma: Uma Jornada de Dor e Perseguição

A esposa Zelma e João Lopes: persistência e perseverança na luta pelos seus direitos usurpados
Cansada de testemunhar a sucessão de injustiças contra o marido, a esposa Zelma Lopes da Silva ergueu-se. Transformou sua dor em combustível para uma batalha incansável pelos direitos que lhes eram usurpados enquanto a família mergulhava em dificuldades. Sua peregrinação tornou-se épica. Ela bateu às portas de todos os órgãos: INSS, Justiça do Trabalho, AGU - Advocacia Geral da união, Ministério Público e, mais recentemente, a Polícia Federal . Contratou advogados que nada resolveram. Enfrentou a máquina pública, onde, frequentemente, encontrou má vontade, desdém, e o pior - racismo em diversas oportunidades. Além de desinteresse em investigar suas denúncias. Recentemente, encontrou eco na Polícia Federal, que abriu investigação e busca desvendar o esquema.
Zelma reuniu provas estarrecedoras. Descobriu que os criminosos usavam laudos médicos falsos, que atribuíam a João a perda de todos os dedos da mão e até do braço – lesões gravíssimas que garantiam a concessão imediata e generosa dos benefícios que lhe eram negados. “Isso começou logo após o acidente”, relata Zelma, com a voz carregada de uma mistura de cansaço e determinação. “Desconfio que esses ladrões se apoderaram dos dados de João e contaram com a cumplicidade de servidores dentro do próprio INSS para consumar o crime.”
Sua luta lhe custou caro. Zelma relata ter sofrido perseguições e até discriminação racial. Mas nada a demove de sua luta contra estas injustiças. “Nada disso vai me fazer desistir. Só queremos o que é justo e nos é devido por direito constitucional. Queremos a punição desses bandidos que causaram tanto sofrimento à minha família. E não fomos os únicos. Existem milhares de João e Zelma por todo este país, suas vidas destruídas pela ganância de criminosos que roubam a esperança de quem mais precisa.”